NO QUE PENSAS, LAÇADOR?

No que pensas, laçador?
No topo desta coxilha,
Olhando longe, em vigília,
Tal qual fosse um “bombeador”
Sei que escutas o clamor,
Do teu povo que padece,
E grita em forma de prece,
Num desespero, profundo,
Pedindo socorro ao mundo,
Que em descompasso, estremece.

Tento imaginar a ânsia,
Que tu deve estar sentindo,
Vendo as águas destruindo,
Sonhos e apegos de infância,
Sei que ao olhar na distância,
Cuidando o curso do vento,
Ressente, neste momento,
Mágoas, que pra trás ficaram,
Dos que te aprisionaram.
Neste bloco de cimento.

Porém, eu tenho certeza,
Que se tu fosse liberto,
Enfrentaria o incerto,
Destino das correntezas,
Mostrando a tua destreza,
Ombro a ombro, braço a braço,
Sem fraquejo, sem cansaço,
Frente ao que te habilita,
Pra salvar vidas aflitas,
Com armada do teu laço…

No que pensas, Laçador?
Capataz, da capital,
Quando deste pedestal,
Pode sentir o pavor,
Dos que te pedem, o favor,
De apertar barbela e cincha,
Pondo na testa uma vincha,
Pra sair em campereada,
Pois muitos, nesta invernada,
Estão sem chão e sem quincha.

Se eu pudesse, companheiro,
Te arrancava deste asfalto,
Pra que tu, num sobressalto,
Alçasse a perna ligeiro,
Mostrando o tino campeiro,
Floreando o pingo num upa,
Contra o que mais te preocupa,
Nestas horas de urgências,
Quando um filho da querência,
Tira um irmão na garupa.

No que pensas, Laçador?
Quando o teu olhar se expande,
Sobre o teu velho Rio Grande,
Que sempre foi promissor,
E agora carrega a dor,
Angustiante, insistente,
Que eu garanto que tu sente,
Suporta, mas não compreende,
Se o teu laço não se estende,
Ao alcance da tua gente.

Se puderes, algum dia,
Te livrar deste concreto,
Há de haver algum decreto,
Que tenha força e valia,
Te firmando a garantia,
De que algum outro escultor,
Não te prenda, laçador,
Te condenando, de novo,
A somente olhar o teu povo,
Deste triste parador.

Rogério Villagran



Quem é Rogério Vilagran: Poeta e compositor gaúcho da linha campeira, natural de São Gabriel/RS. Defende e retrata as coisas e a vivência do homem do campo por ter nascido neste meio e sido criado pelos galpões.