Na tarde do feriado de 21 de abril, a comunidade Mbya Guarani Pindo Poty, que fica localizada a poucos metros da rotatória de entrada do bairro Lami, na estrada do Varejão, no extremo-sul de Porto Alegre, promoveu um mutirão no local junto com a Comissão Guarani Yvyrupa para fortalecer a luta pela demarcação de sua terra, fazer plantios de mudas frutíferas e nativas e denunciar os processos de invasão e esbulho que estão acontecendo dentro da terra Indígena na região. A ação será fortalecida por outras aldeias e índigenas de várias partes do Brasil que farão os rituais de canto e dança junto com anciões, mulheres, jovens e crianças Mbya em seu território tradicional. Há uma semana, uma cerca de arame farpado e três casas de madeira foram erguidas por pessoas que não são indígenas dentro das terras que os guaranis tentam provar ser suas desde 2006.
Preocupados com a mais recente tentativa de invasão, desde o dia 19 de abril indígenas de outras comunidades guaranis desembarcam no local. A população local passou de 30 pessoas para mais de 100, e mais gente deve se unir em apoio nos próximos dias. Segundo o cacique da aldeia, Roberto Ramires, “assim é feita a luta dos guaranis: todo mundo junto, com força total”.
O movimento dos indígenas teve sequência na tarde do dia 22 de abril, com um ato cultural de resistência, exposição de artesanato e apresentação do coral, com o objetivo de cobrar agilidade da Fundação Nacional do Índio (Funai), que iniciou o processo de demarcação da área em favor dos guaranis em 2012, mas não o concluiu até hoje, dando margem para essa e outras invasões no local.
Ocupada permanentemente desde a década de 70, há evidências de que a aldeia já existia desde 1940. A aldeia Pindo Poty – que, em português, quer dizer Flor do Coqueiro – está na fila da Fundação Nacional do Índio (Funai) desde 2006, quando um grupo de trabalho realizou um levantamento das demandas fundiárias dos guaranis no Estado, mas apenas em 2012 o processo de demarcação teve início formalmente – depois de muita pressão dos indígenas e do Ministério Público Federal, que moveu um Inquérito Civil Público para agilizar a promessa da Funai, feita em Brasília quatro anos antes. A portaria nomeando o corpo técnico para pesquisar a área determinou que o relatório fundiário fosse entregue em 60 dias, mas não aconteceram até hoje e parece mais distante, uma vez que a nova gestão do governo federal teve como promessa de campanha não reconhecer nenhuma terra indígena em seu mandato. Questionada pelo procurador da República Jorge Irajá Louro Sodré, a Funai disse que não tem como atuar em defesa dos guaranis no Lami porque a área ainda não possui polígono aprovado porque os estudos de identificação e delimitação ainda não foram concluídos, mesmo que haja, desde 2019, uma decisão judicial que determina a conclusão dos estudos de identificação do território indígena.