Comunidade abraça causa e área de mata nativa em Ipanema

Movimento desenvolvido por moradores e entidades da região pretendem reunir ainda mais apoiadores em protestos nas tardes de domingo

 

Centenas de pessoas percorreram cerca de 2 quilômetros para se manifestar contra a implantação do Loteamento Ipanema, previsto para ocupar uma área de 12,9 hectares de mata nativa na divisa entre os bairros Ipanema e Espírito Santo, na Zona Sul de Porto Alegre. A grande mobilização, realizada na tarde de 4 de novembro, foi organizada pelo movimento Preserva Arroio Espírito Santo como forma de possibilitar à população demonstrar seu posicionamento favorável à defesa da mata nativa e dos animais que habitam o terreno. Além do desalojamento dos animais e da retirada de inúmeras espécies vegetais, os contrários à efetivação do empreendimento estão preocupados com possíveis alterações no microclima da região e o impacto na mobilidade urbana, pois centenas de novos moradores trariam um grande acréscimo ao número de veículos em circulação em vias nas quais, pelo menos por enquanto, não há previsão de duplicação ou de receberem melhorias, como as avenidas Guaíba, Juca Batista e Serraria. Outro objetivo do grupo, em prol da defesa de muitas espécies animais, é evitar a canalização do Arroio Espírito Santo, que serve como “corredor ecológico” e atravessa a área na qual está prevista a construção de prédios e ruas internas para deslocamento dos futuros moradores (mais informações sobre o Movimento Preserva Espírito Santo no Facebook).

A manifestação, que terminou com um grande abraço à área do loteamento, com os participantes ocupando cerca de 200 metros da área frontal do terreno, com palavras de ordem em defesa da preservação da área, é apenas a primeira. Outras mobilizações deverão ser marcadas, semanalmente, para chamar a atenção para o problema. Já no dia 11 de novembro (domingo), uma nova caminhada fará o mesmo percurso, mobilizando os frequentadores do calçadão de Ipanema a aderir ao movimento. A concentração será às 16h no início do calçadão, na esquina da Avenida Guaíba com a Rua Déa Coufal.  

Além disso, os interessados no assunto estão se reunindo semanalmente para debater e articular as futuras ações. Os encontros, abertos ao público, acontecem sempre às terças-feiras, às 19h30, no Clube do Professor Gaúcho (CPG), na Avenida Guaíba, 12060. E, paralelamente, está em curso a coleta de assinaturas para petição que deverá ser encaminhada à Prefeitura, à Câmara Municipal e ao Ministério Público Estadual. O abaixo-assinado virtual Não à derrubada de Mata Atlântica e não à canalização do Arroio Espírito Santo em Porto Alegre pode ser assinado no site O Bugio. Até o dia 5 de novembro, mais de 10 mil pessoas já haviam aderido ao pedido.

 

Representantes do movimento pedem averiguação no projeto

 

Preocupados com o anúncio do Município de que, nos próximos dias, o empreendedor poderá receber a licença de instalação para dar início às obras no local, representantes do grupo de moradores e entidades solicitou ao secretário do Meio Ambiente e Sustentabilidade, Maurício Fernandes, a averiguação do projeto quanto à licença ambiental do empreendimento. A reunião foi realizada na sede da Smams na manhã de 1º de novembro.

 

Assunto voltou a ser destaque após reunião pública


Mais de 18 anos depois de ter chegado ao conhecimento da comunidade e ter causado uma reação imediata de parte da população, especialmente, entre os moradores da Zona Sul da Porto Alegre, o projeto do Loteamento Ipanema volta a ser tema de debate. O assunto voltou a ficar em evidência após reunião pública, realizada pelo empreendedor (a pedido da Smams), em 10 de outubro, no salão paroquial da Igreja Santa Rita de Cássia, no Guarujá. Na ocasião, foram apresentados alguns detalhes do projeto – como a continuidade da proposta de canalização do arroio, a remoção e o replantio de árvores protegidas por lei e alguns cuidados para evitar que os animais “fujam” da área que de mata que deverá ser preservada dentro do loteamento –, mas a comunidade saiu com muitas dúvidas, pois não foram apresentadas as alterações que serão efetivadas no projeto inicial, que é da década de 90. Além disso, os moradores e entidades presentes manifestaram interesse em participar da análise das alterações no projeto, o que, pelo menos até o momento, não foi autorizado.

 

Possibilidade de desmembramento de sede de clube também gera preocupação

 

Também há uma apreensão da comunidade em relação ao Clube do Professor Gaúcho (CPG), pois a diretoria está preocupada com a possibilidade de que as ruas que serem construídas dividam a área do clube em três partes, desmembrando a sede para facilitar o acesso dos futuros moradores. A informação não foi confirmada nem desmentida até o momento, dando margem a boatos. O secretário da Smams, Maurício Fernandes, no entanto, informou que a secretaria não recebeu qualquer informação sobre modificação na área do clube, mas se comprometeu a buscar informações sobre o assunto junto a outros órgãos municipais.

 

Entenda porque o Loteamento Ipanema gera tanta polêmica

 

No ano 2000, após forte pressão popular (amplamente noticiada por O Jornalecão e, posteriormente, por outros jornais de Porto Alegre), o Ministério Público (MP) entrou com ação na Justiça para suspender a tramitação do projeto do empreendimento, que estava em fase de aprovação junto ao Município e previa a construção de 16 prédios de dez andares, além de casas e da canalização de parte do Arroio Espírito Santo. Estava prevista, ainda, a preservação de, aproximadamente, 20% da área.

O MP, então, acolheu o pedido de milhares de pessoas, por meio de abaixo-assinado promovido, inicialmente, pelo movimento União pela Vida (depois, com adesão de outras entidades e grupos), que solicitaram que a área de mais de 12 hectares fosse preservada. Uma das alegações do movimento era de que a área faria parte da mata atlântica, com espécies vegetais e animais que já naquela época (ano 2000) corriam risco de extinção. Entre as preocupações de milhares que assinaram o pedido, estavam possíveis alterações no microclima da região, desalojamento de espécies de animais e retirada de árvores nas áreas onde seriam construídos os prédios e casas e as ruas internas. Outra grande preocupação da comunidade, há 18 anos, era com a preservação do Arroio Espírito em, pelo menos, 15 metros de cada lado de suas margens, na parte que ainda não está canalizado atualmente.  Na época das manifestações, surgiu com este objetivo o movimento SOS Arroio Espírito Santo.