A persistência do jornalismo comunitário na Zona Sul

O Jornalecão, um dos poucos jornais de bairro que resiste e permanece em atividade em Porto Alegre, completa 36 anos em maio de 2023, consolidando-se como o mais antigo deste tipo na capital gaúcha ainda em circulação. Neste tempo, vimos o ápice e o declínio das mídias locais impressas acontecendo. A missão das mídias comunitárias de dar voz à comunidade local parecia estar em boas mãos quando surgiram as redes sociais, prometendo descentralizar a produção de conteúdo, que, até então, ficava concentrada em grandes conglomerados midiáticos, que decidiam o que era relevante ou não noticiar. Como jornal de bairro, inúmeras vezes ouvimos que apenas O Jornalecão cobria os acontecimentos da região, locais onde os grandes veículos de comunicação geralmente só visitavam quando acontecia alguma tragédia. As redes sociais, de fato, aumentaram exponencialmente o alcance e a repercussão das notícias quase em tempo real, já que qualquer pessoa com um celular na mão pode gerar e multiplicar o conteúdo, fazendo com que chegue ao conhecimento de outras pessoas mais fácil e rapidamente do que nunca.

A comunicação mudou, ficou muito mais complexa e dinâmica ao longo das últimas décadas, o que, enquanto jornal de bairro, nos dá orgulho de simplesmente conseguirmos permanecer de pé, quando tantos outros colegas tiveram que fechar suas portas em razão dessas mudanças. Nossa missão de dar voz à comunidade local permaneceu a mesma, mas teve que assumir desafios diferentes. Se, por um lado, as redes sociais conseguiram democratizar a produção e o acesso ao mais variado tipo de conteúdo, por outro lado a quantidade excessiva de informação nos exige cada vez mais filtros para distinguir o que é real ou não, sob o risco de justificar e relativizar comportamentos que não podem ser naturalizados de forma alguma – isso, claro, se concordarmos que é necessário um pacto de civilidade para aceitar e conviver com as diferenças que compõem a raça humana.

Entender a realidade que vivemos sempre foi e será um desafio, o que muda ao longo da história são as ferramentas disponíveis para tentar cumprir essa tarefa da melhor maneira possível. Antes mesmo da palavra escrita, o ser humano já contava histórias e essa tem sido a base para o conhecimento ao longo da nossa trajetória nesse planeta, assim como muitas foram as formas, métodos e suportes que usamos para contá-las.

A função de um jornal de bairro sempre foi contar as histórias dos vizinhos para os vizinhos. O Jornalecão, que tem esse nome porque sempre se orgulhou de ser um “grande jornal pequeno”, já foi uma folha de papel escrita, desenhada e xerocada por crianças de 9 e 11 anos de idade, depois evoluiu para um jornal impresso em gráfica, marcando presença também na internet, sem perder de vista jamais sua razão não apenas de existir, mas também motivação para permanecer: ajudar a contar a história da Zona Sul de Porto Alegre.