Esta história é sobre uma vizinha nossa, poeta, escritora. Vó Edith, como a chamávamos, era uma agregadora. Hoje seria adjetivada de “Influencer”. Num tempo que não havia a rede social, internet, o máximo que se dispunha era um fax rudimentar e uma impressora de nove pinos.
Auxiliávamos O Jornalecão na impressão inicial de suas folhas recém-saídas do mimeógrafo. Ela, em idade avançada, acompanhava os meninos na distribuição do jornalzinho pelo Guarujá. E encabeçava junto à igreja Santa Rita o trabalho de criação de peça teatral junto à comunidade. Dirigia encantando.
Se jactava de ter sua cabeça reproduzida pelo escultor Vasco Prado. “Ele fez minha cabeça!”
Pois atravessava a rua para conversar comigo sobre trabalhos escolares da neta. Auxiliava a menina no tocante ao texto e me solicitava a ilustração.
De uma feita fiz um desenho, a seu pedido, um desenho à cera do rosto de um camponês. No dia seguinte, irrompeu luminosa na nossa casa: “Tiramos dez!!”
Hoje, ao me aproximar de sua idade, procuro, com este breve relato, honrar seu exemplo.
Martin Süffert
Morador do bairro Espírito Santo
Nota dos editores: Arquiteto de profissão, Martin Süffert é também chargista e ilustrador, de 1994 a 2002, colaborou com O Jornalecão com charges, ilustrações, contribuindo na diagramação, entre outras atividades. Sua participação no jornal de bairro da comunidade foi sugerida pela jornalista Edith Hervé de Souza (vó Edith) que colaborou muito com O Jornalecão em seus primeiros anos, até seu falecimento, em 1998. Vó Edith não só escrevia a apreciada Coluna da Vó Edith, na qual, além de sua opinião, divulgava poemas de moradores da comunidade, textos que ela chamava de “desengavetados”, como também ajudava o jornal a crescer de diversas outras formas. Por sua iniciativa junto a pessoas de suas relações, conseguiu diversos apoios para O Jornalecão, participação de colaboradores e também entrevistas, realizadas no seu período como colaboradora, com personalidades como Luis Fernando Verissimo, Cyro Martins, Lya Luft, entre outros.
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