Um ano depois, impacto da enchente ainda é sentido na Zona Sul de Porto Alegre

O mês de maio de 2024 começou de forma catastrófica em Porto Alegre. Já no último dia de abril, diversas famílias que residiam nas proximidades de arroios tiveram que deixar suas casas devido aos transbordamentos de cursos d’água. Como a Zona Sul de Porto Alegre conta com diversos arroios, o impacto da grande quantidade de chuva do final de abril atingiu em cheio a região. Mas o pior estava por vir. A chuva incessante, com altos índices pluviométricos, e o fato de diversos rios desaguarem no Guaíba levaram a capital gaúcha a um estado de calamidade jamais visto e que superou muito os resultados de inundações anteriores. A grande cheia de 2024 excedeu todos os prognósticos e deixou milhares de pessoas desabrigadas ou desalojadas, superando, inclusive, a famosa enchente de 1941, que todos já tinham ouvido falar, mas que poucos tinham presenciado.



As semanas e os meses seguintes constituíram-se em um período trágico na história não só da cidade, como de todo o Rio Grande do Sul. A catástrofe correu mundo e mostrou a toda a humanidade, ao vivo e a cores, um exemplo dos efeitos das mudanças climáticas impulsionadas por nossa espécie. O resultado imediato que se seguiu ao choque de ver diversos locais do estado devastados levou não só a população local, mas também pessoas de outros estados e países a formarem uma rede de solidariedade que conseguiu minimizar os efeitos da tragédia que ceifou vidas, destruiu histórias junto com as moradias de milhares de pessoas e, ainda, deixou marcas que ficarão para sempre nas gerações que vivenciaram a inundação e, certamente, também nas que ainda estão por vir.



Efeitos da catástrofe climática seguem sendo sentidos depois de 12 meses

O impacto da grande inundação de maio de 2024 foi tão forte que, um ano depois, os efeitos seguem sendo sentidos. E os sinais são de que a recuperação será lenta. Se as imagens nunca serão esquecidas por quem vivenciou a tragédia, independente do quanto impactou a vida de cada um, a esperança era de que a recuperação não demorasse. Mas, passados os primeiros 12 meses, o que se vê é que o caminho será árduo. Com a economia fortemente impactada pela tragédia, também aqueles que não foram diretamente atingidos vêm sofrendo no bolso os efeitos do pós-enchente. Em parte porque quem foi diretamente afetado com a perda de casas, negócios e empregos teve que se preocupar em refazer sua vida, influenciando na roda econômica, mas também devido às perdas bilionárias para a economia do Rio Grande do Sul como um todo.



Para os diretamente atingidos, a recuperação está sendo gradual. Muitos perderam suas casas e não conseguiram voltar. E quem teve condições de retornar ainda sofre os efeitos da catástrofe. Para piorar, os esforços governamentais, em todas as esferas, apresentaram, até o momento, resultados aquém do esperado pela população. Há ainda muitos casos de pessoas que esperam casas prometidas ou que tiveram problemas para receber benefícios que, até hoje, não chegaram.

E ainda segue o receio de que uma nova catástrofe venha a atingir o estado a curto ou médio prazo. E, se isso vier a ser confirmado, a Zona Sul certamente será fortemente atingida, pois muitos de seus bairros estão localizados às margens do Guaíba. Estudos que começaram a ser feitos após a tragédia estão em andamento, mas ainda longe de apresentarem resultados efetivos, pois, primeiramente, é necessário saber o que pode ser feito para evitar novas catástrofes antes de serem iniciadas obras. Além disso, os processos de recuperação são demorados, como podemos ver em nossa região, por exemplo, na restauração do calçadão de Ipanema, que foi severamente danificado e, um ano após a grande cheia, segue em obras. 

Outros meses de maio virão e, nos próximos anos, outros momentos de reflexão virão. A expectativa é que esta tragédia leve a melhorias que evitem novos sofrimentos para a população, assim como ocorreu, há algumas décadas, quando a cheia de 1941 obrigou os porto-alegrenses a buscarem soluções, como a construção do Muro da Mauá, dos diques e das casas de bombas.

Os desafios agora são muito maiores, pois a população se multiplicou e, com isso, áreas antes pouco habitadas, hoje, estão ocupadas, com construções em locais em área de risco e outras onde antes havia espaço para o lago Guaíba extravasar. É momento de pensar “fora da caixa” e uma das oportunidades está bem em frente: a revisão do Plano Diretor. Adiada há alguns anos, inicialmente, devido à pandemia de covid-19, a revisão Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA) será uma grande oportunidade de mudança. A esperança é que todos os envolvidos possam dar as mãos e pensar no bem comum, em benefício de toda a população e das futuras gerações porto-alegrenses.