Algumas vezes, ainda sou moço – por Caco Belmonte

A primeira vez em que percebi o “peso” da idade, lá pelos quarenta, foi à beira-mar. Jovens de ambos os sexos jogavam futebol em times mistos num campo improvisado, demarcado na areia com as “goleiras” assinaladas por pares de chinelo, um para cada “trave”. Eu caminhava rente à água e a bola escorregou para o meu lado. De longe, uma moça de seus 18 anos veio correndo e parou a uns dez metros. Gritou, enquanto a bola rolava em minha direção: “ô tio, manda a bola aí”.

No supermercado em que compro aqui perto, nos raros horários de pouco movimento, as funcionárias dos caixas se auxiliam, ajudando a empacotar as coisas dos clientes, enquanto outros compradores não surgem para os guichês vazios. Tem duas dessas comerciárias que costumam comentar de forma pejorativa sobre certos clientes, casualmente na minha presença. Houve duas ocasiões. Enquanto uma passava as minhas compras no leitor dos códigos de barra, a outra me ajudava a enfiar tudo nas sacolas, e falavam de quem fora atendido antes.

Talvez, os meus olhos acima da máscara transmitam alguma confiança. Ou, decerto, tenho “aura de fofoqueiro” mesmo e as duas pensam que estamos todos em casa falando da vizinhança.

– Que véia ridícula essa, se acha grande coisa.

– Tu viu o carrão que ela anda?

– Sim, esse é o novo, tinha outro ano passado.

– Vaca, nem olha direito pra gente.

– Deve ser mal comida, aposto.

Nesse momento eu começo a rir. Elas me olham e falam ao mesmo tempo:

– Ai moço, desculpe!