Pastéis na hora


Ele tinha um bar solitário na praia isolada e nem se importava em vender, aquilo era passatempo. Único barraco mal-ajambrado na areia, bem ao lado do morro e boa parte do dia o local ficava à sombra. O acesso mais fácil era marítimo, ou então o turista precisava andar uns longos quilômetros serpenteando trilhas entre morros. Houve uma tarde em que a lancha de dois motores com três gaúchos e quatro mulheres atracou perto da praia. Dois caras desceram e foram comprar bebidas, estavam todos pensando em comer uns camarões fritos também. O ermitão proprietário estava de costas para os clientes recém-chegados. Lavava pratos e copos e nem se virou para responder ao que lhe perguntavam.

– Amigo, saí uma porção de camarãozinho frito e cervejas geladas?

– Hoje não tem.

– E pastel?

– Também não.

– Como não? Tô vendo escrito ali, a plaquinha: PASTÉIS NA HORA.

Nesse momento, finalmente, o ermitão se volta para o interlocutor e sentencia.

– Sim, a placa diz pastéis na hora. Na hora em que eu desejo fritar.

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