Luíz Horácio: fotografias e textos que desinvibilizam

Nascido em maio de 1957, em Quaraí, Luíz Horácio Pinto Rodrigues cresceu em Rosário do Sul e, hoje, vive em Viamão. Mas, conversando com ele, é fácil perceber que seu olhar ultrapassa o horizonte e alicerça passos para muitos caminhos. De fato, Luíz viveu e vive muitas coisas: teve quatro filhos, perdeu um, viveu por 20 anos no Rio de Janeiro, onde completou sua graduação em Letras, participou de um livro na França com um texto apresentado em um Colóquio (na Universidade Paris 8) e, há 12 anos atrás, voltou a viver no Rio Grande do Sul. A sensibilidade do seu olhar está afinada com a palavra – tanto dita quanto escrita! Luíz sabe tratar a palavra com o respeito que ela merece e a coerência exige, aliada a um tipo de paixão que apenas a honestidade permite viver, sem medo de falar, ouvir, concordar ou discordar.

Além de participação em vários livros de coletâneas de escritores, Luíz Horácio já lançou seis romances: Perciliana e o pássaro com alma de cão (2006), Nenhum pássaro no céu (2008), Pássaros grandes não cantam (2010), Doralina (2014), Thelma (2015) e Beatriz (2016), todos pela editora In Verso. Também fez a versão francesa de dois livros infantis (O que tem dentro? e A gaivota vegetariana), além de escrever resenhas literárias para os jornais O Globo, Jornal do Brasil e Jornal Rascunho.

Como as palavras nunca seriam suficientes para expressar tudo que um olhar tão aguçado pode captar, Luíz também se descobriu um fotógrafo de mão cheia, cuja atenção para ver e retratar os acontecimentos é tão apurada quanto a paciência para esperá-los e a perspicácia para reconhecê-los. Embora seu pai, um agente do INSS em Rosário do Sul, também tivesse o hobby de fotografar, Luíz só descobriu a paixão pela fotografia há quatro anos, quando foi acometido por um problema de saúde e encontrou nas fotos mais que um passatempo, descobriu um outro tipo de tradução possível. Com mais essa ferramenta em mãos, Luíz deu ao seu olhar mais uma forma de expressão, além das palavras, à sensibilidade de seu olhar, realizando três exposições até o momento: Asas de Ipanema, Ouviram na Ipiranga e Cicatrizes do abandono, todas em 2019.

A última exposição, Cicatrizes do abandono, retrata personagens que o ritmo e a velocidade da vida urbana muitas vezes invisibiliza: os moradores de rua e seus cães. Conhecendo Luís Horácio e o seu trabalho, é possível perceber que ele não tenta dar voz a seus interlocutores, mas as reconhece e respeita. Quem tem a oportunidade de vê-lo conversando com os moradores de rua, chamando-os pelo nome e sabendo, inclusive, os nomes de seus familiares e animais, pode perceber a empatia real de quem não coloca previamente ninguém acima ou abaixo em uma escala de consideração, motivo pelo qual recebe o mesmo respeito e dignidade que sempre oferece. Essa proximidade sincera e consequente intimidade é totalmente perceptível em suas fotos, assim como em seus textos. O poeta Mario Quintana dizia que “um cachorro serve para a gente falar sozinho”, complementando que a quem vive na rua “pode faltar tudo, menos um cachorro”. Percebendo que essa era a realidade de muitos moradores de rua, a quem muitas vezes sequer um olhar é despendido – quem dirá uma palavra! -, Luíz Horácio não poderia apenas fotografá-los, precisava ouvir suas histórias também.

Desses encontros, além das belíssimas imagens, Luíz também escuta relatos intensos que, com sua rara sensibilidade, tornam-se textos. A partir desse trabalho, Luíz Horácio foi convidado a integrar o MRSC (Movimento Moradores de Rua e Seus Cães), entidade que teve início em São Paulo, e a liderar o movimento em Porto Alegre. A série de fotos Cicatrizes do abandono, que reúne esses trabalhos, está se tornando também um livro, com o mesmo título, e será lançado ainda este ano, assim como mais outros três títulos nos quais o autor está trabalhando: Viagem ao interminável presente dos condenados, A borboleta e o vento e A liberdade cabe em qualquer prisão.

A partir deste mês, Luíz Horácio passará a ser mais um colunista de O Jornalecão, publicando textos e fotos que compuseram o seu trabalho Cicatrizes do abandono com nosso leitor. Para colaborar com o MRSC Porto Alegre e/ou adquirir alguns dos livros de Luíz Horácio, é possível entrar em contato diretamente com o autor, através do telefone e WhatsApp (51) 99782-8493.