Um poema de Mario Quintana para o dia dos pais

No dia 30 de julho, o poeta gaúcho e porto-alegrense de coração Mario Quintana estaria completando 114 anos se estivesse vivo. Nascido na cidade de Alegrete, em 1906, Mario de Miranda Quintana veio para a capital em 1919, para estudar no Colégio Militar. Ao mesmo tempo em que estudava e escrevia seus primeiros versos, ali começava sua história de amor com Porto Alegre. Acabou voltando para o Alegrete, onde ficou trabalhando na farmácia dos pais, até eles falecerem e decidir voltar para viver na capital, se dedicando à tradução, ao jornalismo e à poesia e publicando mais de 20 livros – sem contar as antologias! Nunca casou nem teve filhos, gostava de morar em hotéis e, inclusive, a Casa de Cultura Mario Quintana, localizada no Centro de Porto Alegre, era o Majestic, hotel onde o poeta viveu por muitos anos, antes do local se tornar patrimônio histórico. Mario Quintana nunca se sentia em casa e, por isso mesmo, todo lugar era sua casa, ou, como ele mesmo dizia: “Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder minhas coisas“. Foi considerado um mestre da palavra, do humor e da síntese poética. Em frases curtas e por vezes irônicas, falava sobre todos os assuntos, mas, principalmente, sobre as coisas simples e cotidianas. Ao longo de sua vida, escreveu tanto para adultos quanto para crianças, recebendo vários prêmios literários e se tornando referência cultural no Rio Grande do Sul e no Brasil.

Mario Quintana morreu em 1994, aos 87 anos, e, mesmo que a Academia Brasileira de Letras tenha negado o seu ingresso por duas vezes, sua obra não apenas permanece viva, como ainda se mostrou imortal para quem realmente decide: o leitor. E é justamente para o nosso leitor que dedicamos um poema de Mario Quintana, como forma de homenagear tanto o poeta quanto o Dia dos Pais:

As mãos do meu Pai – Mario Quintana

As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
– como são belas as tuas mãos –
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos…

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
no braço da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas…
essa chama de vida – que transcende a própria vida…
e que os anjos, um dia, chamarão de alma…