Crônica do nascimento de um jornal

Por Adília Cruz da Silveira – Mãe de dois fundadores de O Jornalecão e colaboradora desde 1987

As crianças estavam inquietas naquele dia, mais um dos integrantes do time havia se machucado durante o jogo de futebol que sempre faziam no meio da rua revestida de pedras irregulares. Era ali, na frente de suas casas que costumavam brincar de polícia e ladrão, esconde-esconde, teatrinho e, nos últimos tempos, de jogos de futebol entre meninos e meninas. A rua era tranquila, quase não passavam carros, só mesmo os dos moradores, não era perigoso brincar ali. Mesmo assim, de vez em quando, alguém perdia uma unha, torcia o pé ou lesionava o braço…

Então, a turma se reuniu para pensarem o que fazer para continuar com seus torneios. Alguém teve uma ideia: – Vamos jogar no terreno baldio!

A ideia foi aprovada alegremente, mas, então, veio a questão:

– Mas, antes, teremos que tirar o mato que está ali!

Todos correram para lá. A ideia era pisotear tudo até baixar o mato e ficar como um gramado de campo de futebol. Depois de alguns dias pisoteando o mato e jogando em cima para “limpar” o terreno, foram improvisadas goleiras e o campinho da rua Oiampi começou a receber jogos com as “arquibancadas” lotadas (na verdade, o pessoal em cima dos muros). Felizes com o sucesso nos primeiros meses, os meninos e meninas logo viram que poderiam fazer muito mais. Só que não tinham dinheiro!

Campinho da rua Oiampi – Foto de Jorge Seadi

E surgiu a ideia que foi a semente de O Jornalecão:

– Vamos fazer o jornal da rua e vender para nossos pais e para os outros vizinhos para juntar dinheiro para melhorar o campinho!

E, então, puseram mãos à obra: um desenhava e criava historinhas engraçadas, outro escrevia sobre fatos acontecidos com eles mesmos e os vizinhos, outro pesquisava fatos culturais e curiosidades, outro ajudava a montar o jornalzinho.  Depois de xerocado e organizadas as páginas, foram para a rua vender os exemplares. Era a noite de 10 de maio de 1987, também um domingo de Dias das Mães, como agora em 2020. Depois de 33 anos, dois daqueles meninos continuam levando a ideia à frente. Um é o jornalista responsável e outro é o editor do mais antigo e admirado jornal de bairro da Zona Sul de Porto Alegre. Parabéns, Gustavo Cruz da Silveira e Guilherme Cruz da Silveira pela persistência e luta por seus ideais, apesar das muitas dificuldades enfrentadas nestes 33 anos!  E a todos, que como eu, também contribuíram para que, nestes 33 anos, O Jornalecão cumpre sua missão de ser o porta-voz da comunidade da Zona Sul.