Artistas e artesãs no antigo Artesanato Guarisse

No mês em que também se comemora o Dia Mundial do Artesão (19 de março), no Dia Internacional da Mulher tive a oportunidade de conversar com as pessoas da comunidade e de outros bairros de Porto Alegre que compareceram ao evento promovido pela Associação dos Artesãos da Feira da Tristeza (AAFAT), junto ao Centro Comunitário (CCD), à Associação dos Escultores do Estado do Rio Grande do Sul (AEERGS) e à Primeira Região Tradicionalista do MTG, no Centro Cul­tural Zona Sul, sobre a presença feminina no antigo Artesanato Gua­risse – um importante empreendimento que teve o seu início a partir da iniciativa do casal Arthur e Léa, que residiram no bairro Tristeza desde o final da década de 1960. O casal Guarisse começou a trabalhar com artesanato ao consertar, reciclar e transformar partes de lustres antigos em novos, para utilizar na decoração de sua própria casa na Rua Mario Totta – o que deu origem à fábrica localizada na Rua Landel de Moura, 430, atual Centro Cultural Zona Sul.

Desde o início do empreendimento, entre outros projetos artísticos, Léa Caruso – esposa, mãe dos cinco filhos do casal e parceira nos negócios – foi a responsável por criar as peças em cerâmica que eram produzidas no local e por idealizar e projetar novos objetos junto aos ar­tesãos e artesãs que lá trabalharam. Após ter se dedicado à docência, Léa Caruso representou a principal presença feminina no Artesanato Guarisse, pois, além de artista e decoradora, ela criava e ensinava às artesãs a técnica da faiança e também recepcionava personalidades ilustres, como a apresentadora Hebe Camargo e outras artistas e ce­lebridades vindas de toda parte para conhecer o Artesanato Guarisse.

Ao final da década de 1970, após a separação do casal, Arthur Gua­risse inicia um novo relacionamento com a atriz Sandra Bréa, que tra­balhava na Rede Globo de televisão. À época, a atriz fora contratada pelo Artesanato Guarisse como “garota propaganda”, estampava a sua imagem nos anúncios publicitários do empreendimento e chegou a ven­der à emissora de TV os objetos produzidos na fábrica da Tristeza e as antiguidades comercializadas na loja do Artesanato Guarisse com sede na capital carioca, na Rua Nossa Senhora de Copacabana. Os lustres, as luminárias, os relógios, os móveis até hoje fazem parte do acervo cenográfico da empresa e volta e meia podem ser vistos em cenas de novelas e séries brasileiras.

Além destas duas mulheres que colaboraram diretamente com o empreendimento, outras mu­lheres – desenhistas, artistas e artesãs – trabalha­ram na fábrica e muitas delas, como a arquiteta Deborah Felizzola, até hoje projetam seus traba­lhos influenciadas pelo que vivenciaram junto ao Artesanato Guarisse.

 

Marcia Morales Salis - Arquivo Pessoal

 

 

 

Marcia Morales Salis
Moradora do bairro Ipanema, Gestora Cultural e
Delegada pelo RGS no Colegiado Setorial Artesanato do CNPC-MinC
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